terça-feira, 15 de janeiro de 2013

David Bowie – Low (1977)


Mesmo que a icônica capa de Aladdin Sane (1973) tenha sobrevivido intacta e soberana no imaginário da cultura pop e levado a personagem de David Bowie quase que à banalidade em termos visuais, o legado do britânico ecoa ainda mais forte por conta de seu extraordinário conteúdo musical. Se por algum motivo a incessante busca por sintéticas texturas sonoras entra e sai de moda entre bandas de rock e de outros gêneros, muito disso é fruto das sugestões apontadas por Bowie e sua essencial “Trilogia de Berlim”, sobretudo o álbum Low, de 1977.

Parece redundante hoje em dia destacar a importância do britânico para a música popular, mas fato é que neste mês Low fez 36 anos de aniversário e permanece ileso e incontestavelmente rico em proposta estética. Produzido pelo próprio Bowie e seu parceiro de longa data, Tony Visconti, Low abriu um novo caminho na carreira do músico. Se antes já havia causado espanto geral por flertar facilmente com pop, soul e glam rock, a partir de 1977 passaram a vê-lo como um artista desafiador, que expandia os limites sugerindo à música o uso expansivo da artificialidade sonora.

Com o objetivo maior de largar seu vício em cocaína, Bowie viveu modestamente na Alemanha Ocidental, em Berlim, recluso e longe dos holofotes. Como forma de ocupação, em meados de 1976 chegou a produziu o álbum solo de seu amigo Iggy Pop: The Idiot. Logo ali já podia ser notada uma pitada do que David estava preparando.

Fortemente influenciado pelo som de grupos como NEU! e Kraftwerk, Bowie reuniu uma série de músicos como Carlos Alomar (guitarras), George Murray (baixo), Ricky Gardener (guitarras) e Brian Eno (sintetizadores) para recriar a seu modo a atmosfera dessas bandas. O resultado foi Low, um disco metade instrumental, metade pop experimental e distinto por completo. O curioso é que alguns atribuem a Eno importância igual ou maior que o próprio Bowie na concepção de Low. Polêmicas à parte, certamente o modo de criação do ex-Roxy Music foi uma grande influência, tanto que o próprio alega que participou da produção do LP e não foi creditado.

Não é que bandas do rock progressivo, expoentes do krautrock ou o próprio Eno com sua ambient music não houvessem sugerido aquilo até então, mas o fato surpreendente (além do resultado final do LP) foi a abrupta ruptura de David Bowie, que há um ano antes vinha fazendo soul e mesmo assim assumiu o eletrônico sem quaisquer restrições.

Outro fator que contribui para a notoriedade de Low é a incessante capacidade de algumas de suas canções se ajustarem naturalmente ao presente momento, como no caso de “A New Career in a New Town” ou “Breaking  Glass”, que com seus quase dois minutos representa o que inúmeras bandas contemporâneas tentam recriar direta ou indiretamente. “Sound and Vision” e “Be My Wife”, mesmo sem seguirem a fórmula linear de canção pop, traçaram no panorama musical da época o que viria a ressoar com muita força em conjuntos de pós-punk e new wave do início dos anos 1980.

Todas as onze composições são capazes de levar o ouvinte a uma interessante experiência sensorial, mas de fato as últimas quatro faixas de Low, “Warszawa”, “Art Decade”, “Weeping Wall” e “Subterraneans”, verdadeiros exemplos de ambient music, carregam peso maior do status de obra-prima atribuído ao LP. Qualquer um acostumado apenas com as irresistíveis facilidades do Camaleão do rock (coisas como “The Jean Genie”, “Rebel Rebel” ou “Changes”) passará pela primeira vez pelo desfecho de Low e a partir de então encarará Bowie de maneira absolutamente diferente.

Com todo o reconhecimento obtido anos depois, a desconfiança da RCA (então gravadora do músico) para com o disco virou mero detalhe. Das onze faixas, seis eram basicamente instrumentais e a empresa teve sérias dificuldades em encontrar na obra alguma “música de trabalho”. No final das contas, “Sound and Vision” foi a escolhida como single.

O disco saiu em janeiro de 1977. Inicialmente seria lançado em dezembro de 1976, porém a RCA cancelou com a justificativa de que não via Low com um potencial presente de Natal.

Seria Low o ápice criativo de Bowie? O próprio afirma que sim, e até chegou a tocá-lo na íntegra em 2002, num único show em Londres. Mas fato é que, gostando ou não gostando, ao escutar o álbum todo não há como relevá-lo e não perceber nele uma infinidade de outros artistas.

Low (1977)

Lado A

"Speed of Life" (Bowie) – 2:46
"Breaking Glass" (Bowie, Dennis Davis, George Murray) – 1:52
"What in the World" (Bowie) – 2:23
"Sound and Vision" (Bowie) – 3:05
"Always Crashing in the Same Car" (Bowie) – 3:33
"Be My Wife" (Bowie) – 2:58
"A New Career in a New Town" (Bowie) – 2:53

Lado B

"Warszawa" (Bowie, Brian Eno) – 6:23
"Art Decade" (Bowie) – 3:46
"Weeping Wall" (Bowie) – 3:28
"Subterraneans" (Bowie) – 5:39

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